Autora: Maria Manuela Mota
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Sem amigos e sem pão
Lá morreu a Mariquinhas
Dizem que foi no caixão
Feito só com tabuínhas
Num quarto escuro, fechado
Sem cortinas nas janelas
Em noite negra sem estrelas
Sem guitarras e sem fado
Num silêncio bem magoado
Há choros no Capelão
E um ou outro coração
Já recorda cheio de dôr
A que morreu sem amor
Sem amigos e sem pão
De todo o lado veio gente
Que se aperta e se atropela
Pois toda a gente quer vê-la
De rosto frio e ausente
Mas com ela, isso é diferente
Não se riam as vizinhas!
Altiva como as raínhas
Lenços e fitas agarra
E abraçada a uma guitarra
Lá morreu a Mariquinhas
Deixou escrito em testamento
Lido de alto p'las vizinhas
Que a guitarra e as tabuínhas
Seu espólio de momento
Queria este seguimento:
A guitarra ali á mão
E as tábuas no coração
Coisa um bocado bizarra
Mas o certo é que a guitarra
Dizem que foi no caixão
E chegou a madrugada
Com toda a gente na rua
Havia uns restos de lua
E de noite mal passada
Mas foi data assinalada!
Pois qual bando de andorinhas
As colegas e as vizinhas
Com o luto no coração
Transportavam o caixão
Feito só com tabuínhas